foto legenda: Berlim perdeu um pouquinho do seu glamour nesta segunda-feira
Era para ser uma segunda-feira como outra qualquer. O céu limpo e a temperatura agradável pareciam favorecer o bom humor para trabalhar.
Entre um “job” e outro, estava programada uma pausa para um café com alguns amigos da Inglaterra.
Carregando material, não havia como evitar ter uma mochila e, justamente por estar pesada, deixá-la, durante o deslocamento de um local para o outro, anatomicamente nas costas.
Um erro que em São Paulo, minha cidade natal, jamais seria cometido afinal, lá sim, sabe-se que, um segundo sem olhar para seus pertences, pode ser o suficiente para que os mesmos desapareçam.
Mas não em Berlim, pensava até então, apesar de conhecer alguns relatos de furtos, não em plena três horas da tarde.
Ledo engano!
O susto veio misturado com a desagradável surpresa de constatar que alguém abrira a mochila e levara a carteira.
Uma sensação de insegurança, impotência e raiva pois o problema não é a quantia de dinheiro que se perde mas os documentos, emails e telefones anotados, fotos da família... a cada minuto lembrava de mais alguma coisa que talvez jamais recuperasse.
Encontro meus amigos com o humor “virado”, a adrenalina “a mil”.
A primeira hora após o furto é de desolação total, apesar de saber que existe coisa muito pior, que foi só uma carteira, é a sensação de terem tirado sua paz em um dia lindo no qual nada de ruim parecia ter permissão para acontecer.
Um capuccino e algumas risadas ajudam a amenizar o problema mas as atividades que deveriam ser cumpridas nesta segunda-feira já não serão mais, afinal, sem ticket do metrô ou dinheiro, não se vai muito longe.
Minha amiga inglesa oferece uma carona e ainda, me leva para checar o local onde fui furtada (ao descer do ônibus M 41 no Hallescher Tor).
Toca dar uma “de doida” e sair checando os latões de lixo, os arbustos, as cabines telefônicas afinal, a esperança era do bandido ter jogado a carteira por aí e a torcida, para que ela não tivesse ido parar no canal, afundando na água.
Volto desolada para o carro e explico que pedi ajuda a “São Longuinho”, prometi 50 pulinhos mas parece não ter adiantado.
Neste momento, toca o celular. “Frau Gomes, encontrei sua carteira na cestinha da minha bicicleta, aqui no meu prédio. Dinheiro não tem mas parece que todos os documentos estão aqui”.
Claro que “explodi” de alegria e, apesar dos olhares estranhos dos carros vizinhos, cumpri ali mesmo a promessa dos “pulinhos”.
Ao encontrar com a simpática alemã em uma estação de metrô à noite, menos de cinco horas depois do furto, rever todos meus documentos e até o cartão do Banco, pensei em como a solidariedade facilita o cotidiano.
Alguém me sacaneara nesta segunda-feira. Outro alguém porém, perdera seu tempo para me ajudar a recuperar meus documentos.
Para ela, como “muito obrigada”, dei dois vale-refeição para experimentar um pouco da cultura brasileira em um dos restaurantes que temos em Berlim, uma Brazine para que conheça nosso trabalho (!) e claro, fica meu eterno agradecimento.
Da segunda-feira, a lição de que em qualquer lugar do mundo tem gente boa e ruim.
O jeito é ficar SEMPRE de olho nos pertences, esteja em São Paulo ou Berlim.