Wednesday, January 18, 2006
FALSOS ESTEREÓTIPOS
Fotolegenda: Brasil é futebol sim mas também muito, muito mais (Foto: Sandra Gomes/ Maracanã-Rio de Janeiro)
Morando há alguns anos em Berlim, percebo que é muito difícil acertarem minha nacionalidade: italiana, espanhola, alemã, turca....ninguém diz „brasileira" e, quando revelo, é sempre engraçada a cara de espanto...
Pele branca (aqui tomei consciência de quão branca sou!!), cabelo castanho, com ascendência e cidadania italianas, sou bem diferente do „tipo brasileiro „ que se estabelece na mentalidade européia: „ Brasileira? Mas você não é negra! „ Há quem peça para dançar um pouco de samba, para provar!...
Há também o estereótipo de que falo espanhol, (que não ouço tanto como ouvia nos Estados Unidos).Os alemães dizem que nosso idioma é „brasilianische" ou „portugiesische", com o que, até certo ponto, concordo! Depois de contatos com dezenas de portugueses, questiono-me se já não podemos denominar nosso „dialeto português„ de „língua brasileira„
Voltando aos estereótipos: não os culpo. Quando vim para cá, minha idéia de „alemão„ era a do loiro de olho azul, sério, 'bigodudo', sisudo e honesto. Tá, encontramos alguns tipos assim, mas, meu Deus, eles são tantos e tão variados! Como nós!!
Recebi um e-mail de um amigo que comentava as impressões de um terceiro. Este viajara pela Holanda e Alemanha, conhecera holandeses e alemães, adorou os primeiros, detestou os segundos. O amigo, que sabe da minha simpatia pelos germânicos, me cutucou: „Tá vendo, eles não devem ser tão legais como você diz..."
Bom, expliquei a ele que Berlim, encarada em meio à Alemanha de forma geral, parece um tanto „à parte", lotada de estrangeiros, rica em história, em mágoas e esperanças, democrática e super-liberal, ao contrário de grande parte religiosa do país.....Munique, onde já estive por duas vezes, tem outras vantagens, mas falta realmente o calor humano que temos aqui (percebe-se, inclusive, uma certa 'richa', como entre „cariocas e paulistas", isto é, os bavarianos costumam brincar que são „bavarianos „ e não „alemães..").
Expliquei também que, mesmo aceitando críticas ao comportamento prussiano, tenho centenas de conhecidos de diversos pontos da Alemanha, muito, muito agradáveis, simpáticos, educados....Sinto, sim, a diferença entre brasileiros e alemães em fazer amizades, por exemplo. O brasileiro inicia facilmente as amizades, mas parece que não reluta em perdê-las. O alemão demora a fazê-las, mas parece jamais esquecer um amigo......Tudo isto, entretanto, pode ser empírico, frase feita, e não passar de grande bobagem!...
A dúvida que fica no ar: podemos mesmo julgar os estereótipos de um povo por 30, 40 pessoas que conhecemos ao viver ou visitar aquele país? Chegando à Europa, fiquei alguns dias em Londres, onde, apesar de meu inglês fluente, fui por diversas vezes ignorada e esnobada. Uma impressão horrível. Cheguei a Berlim sem falar alemão: escrevia num papel aonde tinha de ir, mostrava pra eles e me levavam até o ponto certo, sem precisar de uma palavra. Tenho muito mais a reclamar dos dez dias passados na Inglaterra, do que deste anos que estou aqui....Talvez mudasse de opinião ficando por mais tempo no Reino Unido!
Encontro, com orgulho, muitos grupos de brasileiros. De outros, me escondo. Ou seja, a nacionalidade pode mostrar um pouco dos costumes da pessoa, do meio ambiente em que ela foi criada, da educação a que teve acesso; jamais, porém, mostrará o caráter e personalidade.
A sociedade já tem estereótipos suficientes, é preciso parar de conferir passaportes e passarmos a ver todos como seres humanos. Respeitar o espaço, ser prestativo e educado, são regras de etiqueta e convivência no mundo inteiro.
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