(fotos serão postadas posteriormente)
O jornal alemão BZ demonstrou interesse pela vida do jogador Alex Alves, o primeiro brasileiro a atuar pelo Hertha Berlim.
O colega Miguel Conde conseguiu a entrevista exclusiva realizada agora em fevereiro no Rio de Janeiro, já publicada pelo jornal alemão nesta semana (com alguns acréscimos da edição).
O material, na íntegra, o leitor confere a seguir, gentilmente cedido pelo jornalista também para a Brazine.
Por MIGUEL CONDE
"Aos 32 anos, o brasileiro Alex Alves é um homem arrependido. Morando sozinho num flat a quatro quadras da praia de Copacabana, ele sonha com uma volta a Berlim. “No Hertha, eu podia ter respeitado mais o amor e o carinho que as pessoas sentiam por mim. Foi um momento muito complicado para mim pessoalmente. Isso é meu maior arrependimento. Eu quero voltar, até de graça eu jogo”.
Após voltar de Alemanha para o Brasil, o atacante defendeu times grandes como o Atlético Mineiro e o Vasco da Gama, mas nunca exibiu o mesmo futebol de antes de sua transferência para a Europa.
Envolvido com um divórcio que, segundo ele, o consumiu totalmente, Alves acabou voltando em 2005 para o clube que o revelou, o Vitória da Bahia.
No ano passado, afirma, chegou a negociar sua volta para o Hertha, mas, diante dos problemas do passado, a diretoria acabou desistindo do negócio. “Quando eu soube, foi uma porrada”, diz. “Estava em pé, ao telefone, e quase caí”.
O jogador acabou indo para o futebol chinês, onde ficou por três meses. No começo desse ano, voltou ao futebol brasileiro, pelo pequeno Boavista, de Saquarema (a 100 km do Rio de Janeiro) que acaba de subir para a primeira divisão da liga regional do estado.
Criado há três anos, o clube ascendeu rapidamente, e tem planos de chegar à elite do futebol brasileiro. Mas a estrada é longa.
No primeiro turno do Campeonato Carioca, o Boavista teve uma campanha medíocre: empatou três jogos, perdeu um e ganhou outro.
No dia anterior à entrevista, o time fez sua estréia no segundo turno,perdendo por 5 x 1 para o inexpressivo Volta Redonda. Alex Alves entrou no final do jogo – porque “estava com febre”, explica.
Agora, garante estar novamente em forma (e fez questão de tirar fotos sem camisa para provar isso). “Tudo que eu quero agora é trabalhar”, diz o jogador.
Esta conversa começou em Copacabana e terminou aos pés do Cristo Redentor, onde a única pessoa a reconhecê-lo foi um ascensorista, que perguntou onde ele estava jogando.
Quando o jogador respondeu "Boavista", seu fã ficou um pouco desorientado. "No exterior?". "Não, aqui mesmo", respondeu Alves, já saindo do elevador.
Apesar das mechas louras e do visual chamativo, ele diz que já não acompanha com tanto interesse o mundo da moda.
Além disso, revela já ter pensado em ser pastor evangélico e diz estar planejando escrever sua autobiografia.
Você jogou apenas alguns minutos de duas partidas no primeiro turno do Campeonato Carioca, e no primeiro jogo do segundo turno entrou só no final. Está fora de forma?
Quando cheguei ao clube, estava parado há um mês, e o campeonato já estava começando. Agora eu já estou bem. Não comecei jogando esse último jogo porque ficamos concentrados por vários dias num lugar com muita poeira, e eu sou alérgico. Minha garganta inflamou, tive febre. Ainda assim, fiz questão de entrar. Vou começar jogando as próximas partidas.
O que você está achando do Boavista?
É bom, os donos já foram diretores do Botafogo, têm experiência e têm o mais importante, que é capital. Nesse aspecto, ninguém pode reclamar. Mas ainda faltam alguns jogadores mais fortes.
Como tem sido sua rotina no Rio?
Vou à praia, ao cinema, saio para jantar com meus amigos. Estou mais focado no meu trabalho mesmo. Estou me doando muito ao meu trabalho e à minha filha. Nos cinco dias do carnaval, fiquei só com ela, passeando. Depois eu vou ter tempo para fazer tudo na vida. Então quero ficar uns três, quatro anos, só treinando, focado no meu trabalho. Porque perdi uns anos ocupado com outras coisas, e deixei minha carreira um pouco de lado. Agora, não vou cometer mais esse erro.
Quais são suas lembranças da passagem pelo Hertha?
Não é nada difícil falar do Hertha. É uma coisa que caminha comigo para todos lugares onde eu vou. Lá, havia um amor que eu não valorizei. A verdade é essa. Eu estava num momento muito complicado pessoalmente, o que atrapalhou minha passagem pelo Hertha. É um clube para o qual eu ainda quero voltar. Eu podia ter me dado mais, respeitado mais o amor e o carinho que tinham por mim. Isso é meu maior arrependimento. E, quando você tem um arrependimento e não consegue fazer nada a respeito, a dor é pior ainda. Um dia eu quero voltar para o Hertha. Não pelo dinheiro, que eu não preciso. Até de graça eu jogo para retribuir o amor e o carinho que tinha lá, e que era demais, era uma coisa absurda. Quero apagar a imagem que deixei na passagem pelo clube.
O que te atrapalhou na época? A idade?
Não, problemas pessoais mesmo. Minha relação estava complicada e isso me prejudicou muito. Botei minha vida particular em primeiro lugar, achei que tinha que resolver esses problemas primeiro para depois cuidar da vida profissional. Fiz tudo errado, tudo ao contrário. Mas eu fui criado numa família muito certinha, e para mim a idéia de me divorciar, já tendo uma filha, era insuportável. Por isso, quando vi que uma separação podia acontecer, me dediquei totalmente ao meu casamento, não pensei em mais nada. Mas isso não existe mais, já passou. Hoje levo uma vida nova. Naquela época, eu não tinha cabeça mesmo.
A decisão de voltar ao Brasil, naquela época, foi mais da sua esposa mesmo?
Os dois tinham saudades do Brasil, porque a gente levava uma vida complicada. A gente tinha muito ciúme um do outro, então ficávamos muito fechados, quase não encontrávamos outras pessoas. Isso foi um erro. Não tenho mágoa nenhuma dela, mas uma pessoa diferente talvez tivesse me ajudado mais.
Você chegou a conversar sobre uma possível volta com a diretoria do Hertha?
Ano passado a gente conversou, chegamos a acertar algumas coisas básicas do contrato. Mas depois de uma semana eles me falaram que, por causa das coisas que tinham acontecido naquela época, achavam melhor não me trazer de novo. Quando me disseram “Alex, não deu certo” foi uma porrada. Estava de pé ao telefone, e quase caio.
E como foi sua passagem pela China?
Foi um período em que eu estava parado, mas queria voltar para o futebol. Fizeram uma proposta e achei interessante. Eles têm muito a aprender ainda lá, mas têm muito a crescer também. Foi uma passagem boa para mim.
É verdade que em 2004, quando estava no Vasco, você chegou a fazer terapia? Isso te mudou de alguma forma?
A época do Vasco eu devia ter aproveitado mais, mas deixei que a relação me consumisse. Não tinha cabeça para treinar, para jogar. Não conseguia ter paz.Fui para a terapia. A gente conversar na boa, mas três ou quatro dias depois eu já queria voltar, ficava ansioso. Eu ia para lá e me acalmava, mas logo ficava aflito de novo. Aí vi que aquilo estava virando ma droga, euestava viciado. Não conseguia ficar sem falar com o cara. Ele era uma pessoa maravilhosa, mas vi que tinha que resolver aquilo eu mesmo, sozinho. Mas ele me deu uns toques muito bons. Antigamente eu era contra terapia, mas depois vi que eles estudam, têm um tratamento, a conversa certa.
Em que você mudou nesse período?
Hoje meu trabalho é tudo. É o trabalho que me dá paz, é minha terapia. Hoje meu lado espiritual está aflorando novamente. Tenho muita fé em Deus.
Você sempre foi religioso?
Já passei um momento de não acreditar. Depois que meu pai morreu, falei: “nada disso existe, não acredito em mais nada”. Foi no final de 1999. Mais de sete anos... Para mim foi ontem. Foi uma época de loucura, eu queria conversar com meu pai, li muitos livros da Zibia Gasparetto (autora brasileira de livros espíritas e de auto-ajuda). Mas isso passou. Agora é pensar na minha vida, no hoje. A gente tem que viver de presente, das novas conquistas.
Voce tem formação católica?
Tentei ser evangélico, mas tem tanta coisa errada na igreja... Esse tal de dízimo é uma coisa complicada. Dizem que é bíblico, mas como vou saber se foi Jesus mesmo que escreveu? Pedem muito dinheiro para a igreja. Se eu fundasse uma igreja, tudo que tivesse que fazer a gente faria com todos sabendo. Na igreja não é assim. Você dá dinheiro e não sabe para onde vai.
Você chegou a pensar em ser pastor?
Cheguei, mas tem muitas coisas que eles falam que eu não faria. Não daria certo.
Tem alguma opinião sobre o Para Bento XVI?
Eu li o “Código Da Vinci”... Não sei. O Vaticano manda na Igreja, mas tem muita coisa que eu acho errada.
Você continua muito ligado em roupas? Seu cabelo está com reflexos louros...
Não acompanho mais o mundo da moda. Adoro me vestir bem para sair, pegar as meninas. Mas não ligo mais para isso. Só mesmo para minha auto-estima pessoal.
E quais são seus projetos para os próximos anos?
Eu quero fazer minha autobiografia, porque tem muita loucura na minha vida. Não sei nem se vou botar meu nome, mas tem historias que a gente não pode deixar passar. Você leu “O caçador de pipas”? Ele tinha que contar aquela história. Eu também sinto assim. Já fui do céu ao inferno. Minha vida é uma loucura, desde moleque.
Wednesday, March 28, 2007
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