Wednesday, October 24, 2007

Davi Kopenawa e seu filho Dário em Berlim nesta terça-feira



Apesar do cocar que Davi Kopenawa Yanomami trazia na cabeça ser vermelho, amarelo e preto, a intenção não foi homenagear a Alemanha, como perguntou o locutor da Deutschlandradio na entrevista realizada ao meio-dia, programada para ir ao ar na sexta-feira e ser transmitida para toda a Alemanha. "O amarelo é por causa do sol, o preto, a escuridão e o vermelho, o sangue, a vida“, explicou ao jornalista.



A entrevista foi uma das atividades que Davi participou aqui na Alemanha. De manhã, ele esteve no Instituto Konrad-Adenauer (Konrad-Adenauer-Stiftung) e após a rádio, realizou outra entrevista com o jornal Berliner Morgenpost, para a página intitulada de „Passeio por Berlim“ (Spaziergang durch Berlin).

Na agenda desta terça-feira, dia 23 de outubro, esteve ainda o encontro como o doutor jurista Harmut-Emanuel Kayser (presidente da Sociedade Teuto-brasileira/Vorstand Deutsch-Brasilianische Gesellschaft), no escritório da Survival.



Acompanhado do seu filho Dário Vitório Xiriana, contou ainda com Laura Engel (Survival International Deutschland e.V. - Koordinatorin), Stephen Corry (Survival International – Direktor/Geschäftsführer) e Fiona Watson (Survival International) em sua comitiva.

Pela primeira vez na capital da Alemanha, os próximos dias estão ocupados com compromissos com políticos e autoridades. Para a quarta-feira está prevista a entrega da carta ao governo alemão, na qual Davi pede apoio aos povos indígenas por meio da ratificação da Convenção 169. Davi pretende ainda chamar a atenção da comunidade aos problemas enfrentados na Floresta Amazônica.


"Hoje perdem os índios, amanhã, a humanidade“

A familiaridade que Davi e Dário demonstram com o concreto e a modernidade (durante a entrevista para a rádio, Dário produziu as fotos) fazem esquecer que ambos moram, na verdade, no meio da floresta Amazônica.

E para o homem branco, a idéia de viver sem eletricidade, água encanada, roupas e outros acessórios em pelo século XXI, podem soar um tanto estranho. "Acordamos com a luz e dormimos com a escuridão, como sempre foi, como nosso organismo naturalmente sempre fez“, explica o Yanomami ao ser indagado pelo repórter da Deutschlandradio. "Omã, o criador, deu a escuridão para o corpo descansar. A floresta nos acompanha como um pai e a terra é nossa mãe“.

Mostrar para a "civilização“ o que é a vida na floresta e porque ela deve ser respeitada, é uma das missões de Davi. "A terra sempre foi nossa, sempre esteve lá. As pessoas não podem simplesmente matar, derrubar, vender. Nós não esquecemos nossos costumes e origens, estou aqui para ensinar as pessoas a pensar e sonhar a floresta, a respeitar a natureza e o que existe dela, queremos que vocês nos escutem!“



Ainda relatando como as tribos e os indígenas se organizam no cotidiano, Davi, que é um xamã, explica por meio de uma comparação com a sociedade civilizada: "É como um médico que tem seus equipamentos, mas usa o espírito da floresta para curar, a força da natureza.“
Nem sempre, porém, as doenças são vencidas e este é outro ponto de grande preocupação dos índios. "O homem branco trouxe a malária, a gripe que está maltratando muito meu povo e doenças sexualmente transmissíveis. Estamos tristes, doentes, muito preocupados com isso tudo. O homem traz veneno para nossa terra, polui nossa água. Aprendi a falar português para que vocês possam me escutar!“.
Suas terras teriam sido demarcadas pelo então governo Collor, mas até hoje não foram legalmente instituídas.




Davi comenta estar pressionando os políticos por saber que há interesses econômicos que dificultam a luta dos índios. Projetos de mineração, construção de novas estradas, entre outros, assustam mais ainda. "Estamos cercados por uma cobra enorme que quer nos engolir, nossa luta não pode deixar acontecer isso. Queremos nosso direito à terra. Quanto mais pressionar os governos, mais chances temos. O índio não ganha nada com tudo isso, só perde. Hoje perde o índio, mas com a destruição da natureza, amanhã perde toda a humanidade.“

Sandra Mezzalira Gomes
Jornalista/assessora para imprensa brasileira e latino-americana para visita de Davi e Dário a Berlim
Survival Deutschland
Greifswalderstr. 4
Haus der Demokratie und Menschenrechte

10405 Berlin
+49-30-72293108
le@survival-international.de
www.survival-international.de

2 comments:

Anonymous said...

Linda a entrevista, Sandra. Traduziu da linguagem pura do indio para o alemao. Incrivel. Tambem sou jornalista e moro em Dresden. Acompanho o seu blog e acho o maximo. Muita sorte para voce nesse trabalho!
Neide (nconection@gmail.com)

Sandra Mezzalira Gomes said...

Obrigada Neide!! Bom saber que consegui cumprir a missão de ser a "ponte" desta mensagem! Nossos conterrâneos precisam disso! :o)