Thursday, October 11, 2007

Exclusiva com André Lima: Que em breve os hertanos possam se orgulhar de mim!



Por Sandra Mezzalira Gomes

O André que consigo brecar a caminho do vestiário parece outra pessoa do André Lima jogador, que minutos atrás, treinava meio cabisbaxo com os colegas do Hertha BSC, time da capital berlinense.

Sua expressão corporal demonstrava uma certa tristeza, confirmada posteriormente durante a entrevista, feita na frente do vestuário do clube nesta quarta-feira pela manhã, dia 10, quando um André mais confiante, animado e sorridente conversou por meia hora com a reportagem.

O atacante que marcou 12 gols para o Botafogo no campeonato brasileiro relatou suas dificuldades de adaptação tanto em campo quanto fora dele, comentou sua relação com os colegas, a cidade e o treinador, desabafou sua decepção consigo mesmo por ainda não estar produzindo para os hertanos as alegrias que deu até recentemente ao seus fãs brasileiros,e ainda, garantiu que sua forma vai voltar. Em breve, se Deus quiser.

Religioso, caseiro, André demonstra ter fé em Deus e valorizar verdadeiros amigos. A contusão do Lúcio, seu principal companheiro em Berlim até a chegada da sua família recentemente, também abalou o atacante que procura visitá-lo todos os dias.
André se preocupa ainda com o bem-estar da esposa Bárbara que está grávida de três meses e da filhinha Ágatha, de dois anos.

Além do Hertha, dividiu este último mês correndo atrás de papelada, casa nova, aprender o básico da língua, do estilo deles de futebol, conhecer um pouco do país e da cidade, enfrentando também as dificuldades culturais que qualquer estrangeiro encontra para sua adaptação, aprendendo a se virar com o jeito "do yourself“ do alemão.

A juventude, vontade e boa forma que demonstrou no Botafogo, no entanto, continuam lá, assegura o atleta que promete dar o melhor do seu lado para ajudar o Hertha a conquistar vítórias e pede, para os críticos e os torcedores, mais um pouco de paciência e compreensão.

Aos 22 anos e vendido por 3,5 milhões de euros, veio há cerca de um mês com uma enorme expectativa da torcida e apesar das boas atuações e das jogadas a gol, ainda não conseguiu marcar pelo time.

Comentando serem um pouco injustas principalmente a forma como são feitas algumas críticas da imprensa alemã, André reclama da falta de consideração de jornalistas que escrevem sem entender realmente o que o entrevistado falou ou pior ainda, modificando o mesmo e muitas vezes esquecem que o profissional jogador de futebol, também é um ser humano.



Estive acompanhando alguns fóruns de discussão dos torcedores do Hertha, tem quem apoie e quem critica. Como está lidando com isso?

Fico um pouco chateado comigo mesmo porque eu sei que a expectativa é grande, o pessoal viu o futebol que estava apresentando no Brasil mas eles também tem que entender que tem uma série de coisas que fazem com que eu ainda não esteja jogando como atuava lá.

Por exemplo, o frio?

O frio é de menos, o jeito de jogar, o meu estilo aqui está totalmente diferente do que no Brasil, quem joga do jeito que eu jogava lá aqui é o Pantelic (Marko), então tenho que ajudá-lo em campo e me ajudar também.

Você diz, nesta posição que você está?

Sim, na posição. É difícil para mim mas eu tenho que me enquadrar, a única coisa que posso pedir é que as pessoas tenham paciência que uma hora eu vou encaixar no que o treinador quer.

O técnico está sendo legal, te apoiando?

Tá sendo legal, está me apoiando, mas eu sei que é difícil, não é minha característica ter que marcar volante, ter que armar jogada assim em vez da finalização, que é o que eu fazia no Botafogo.
Sei que estão falando muita de mim, apesar de não saber muito a língua, entendo muita coisa. Estão falando algumas besteiras, que não estou valendo a pena para o Hertha pelo dinheiro que o clube gastou, ficou triste por isso. Tenho família, minha esposa tá aqui, minha filha tá aqui, meus pais, minha família toda no Brasil, eles lêem isso, eu fico chateado mas eu entendo a parte da imprensa



Você acha a imprensa alemã é mais "dura“ que a brasileira?

Não é questão de ser "dura“, mas acho que falam muita coisa que de repente eles não pensam. Atrás de mim tem uma filha de dois anos, minha esposa está grávida, apesar de não saber muito alemão tem vários recursos na internet com os quais consegue traduzir o texto... então fico chateado, é difícil você agora me ver como cheguei aqui, sorrindo.

Percebi que você parecia mesmo meio triste.

Eu fico triste, eu achava que as pessoas entendessem um pouco sobre o tempo que que é preciso para adaptar, minha filha ainda dorme às três da manhã, é difícil pra mim, tenho de ficar acordado com ela e tem treino oito horas da manhã no outro dia, as pessoas tem de entender..(André explica que tanto para a filha como para a esposa a mudança do fuso ainda não foi bem incorporada pelo organismo e a rotina dele também acaba então modificada)

E isso (a pressão e incompreensão) piora tudo?

Piora porque vai desanimando. Mas eu acredito muito em Deus, tenho certeza que Ele vai me dar forças para voltar a jogar o futebol que estava mostrando no Botafogo aqui. Não preciso provar nada para ninguém mas só pra confirmar o que já estava confirmado, estava bem no Brasil, nada mais justo estar bem aqui também.
Tudo tem sua hora certa, eu estou aqui há um mês, tem ainda mais um tempo para me adaptar também ao futebol daqui, que é muito rápido, tem muito contato, quem conhece sabe que o futebol no Brasil é diferente.

E o Gilberto, o Mineiro, o Lúcio, que agora está machucado...

Ainda veio esta contusão do Lúcio, que é a pessoa mais ligada a mim. Quando minha esposa e minha filha não estavam aqui, a gente ficava 24 horas juntos. Depois que ele se machucou eu fiquei muito triste, isso me abalou bastante emocionalmente. É uma contusão séria, a gente sabe que será difícil ele voltar rápido, vários meses de fisioterapia, a esposa dele, a filhinha que não entendem... mas é coisa de futebol a gente está sujeito a isso.
Ele está bem, procuro visitá-lo todos os dias. Ele foi a primeira pessoa que me ajudou quando cheguei aqui.



O Gilberto e o Mineiro também passaram por esta fase, você conversa com eles?

Eu quase não converso com o Gilberto, só converso aqui mesmo (no Hertha), ele tem a vida dele particular, não tenho muito contato. Eu converso bastante com o Lúcio que mora no hotel comigo, e com o Mineiro por telefone. O Mineiro fala que é normal, passou por tudo isso, o próprio Dieter (Hoeness, presidente do Hertha) diz que é tudo com tempo, daqui um mês, dois meses eu vou me adaptar. Mas as pessoas querem rápido, infelizmente no futebol é assim, você é comprado, você tem que dar resultado, ainda mais pela soma que foi a minha compra!

E talvez pelo fato de vc já ser o quarto brasileiro...

Com certeza por ser estrangeiro a cobrança é ainda maior, a cobrança não vem nos alemães que estão jogando mas nos brasileiros, que vem de fora, porque eles gastam mais dinheiro.
É chato, não só eles estão chateados comigo mas eu também estou chateado comigo, porque eu sei que eu posso render bastante no clube, como estava rendendo no Botafogo.
Mas acho que é tudo adaptação, tudo questão de tempo. As pessoas que entendem de futebol estão me apoiando porque sabem a dificuldade que estou passando.

Também tava procurando casa, agora em dia de folga saio para procurar móvel, comprar móvel, carrego móvel no meu carro...

Aqui é tudo diferente mesmo, você tem de se virar para fazer quase tudo sozinho

Pois é, no Brasil é outra coisa. Pode parecer pouca coisa mas de pouca em pouca, pode sobrecarregar muito. O que eu posso pedir aos torcedores, as pessoas que me criticam e que me apoiam é que tenham um pouquinho de paciência porque uma hora vai engrenar a coisa e, a hora que eu fizer um golzinho, vai vir mais, e vou voltar a jogar o futebol que eu estava jogando.

Já estou mais ou menos adaptado com o frio, com o clima, só algumas coisas agora com o futebol, o horário que ainda está pesando um pouco.. às vezes acordo meio em cima da hora e tenho de sair correndo.



E você já comentou com o clube sobre estes problemas do dia-a-dia, se eles não podem achar alguém para te ajudar? O Gilberto contou com apoio do próprio Alcyr (Alcyr Pereira, intérprete do Hertha para os brasileiros) no começo para fazer compras, etc.

Fica difícil, o Alcyr tem as coisas dele, é empregado do clube, tem de ajudar outros jogadores, só com coisa muito importante mesmo.

Está se virando sozinho pra ir no mercado?

Supermercado vou sozinho! De vez em quando aparece um torcedor brasileiro que vem aqui, o Mauricio, que está aqui há mais de 20 anos e me ajuda. Ele foi comigo na loja de móveis ajudar a pedir. Tem o amigo do Mineiro, o Christian, que foi hoje de manhã comigo lá correndo. Sete da manhã hoje estavam chegando os móveis no meu apartamento.

E sua família chegou logo depois e o que está achando, sua mulher grávida, sem apoio, estão estranhando?

É diferente sim. Peguei ontem a chave do apartamento, fui comprar móveis correndo para tentar mudar antes dos jogos e centralizar só no futebol, mas é dificil, as coisas aqui são complicadas.
Estamos correndo atrás de tudo ainda. Até médico para acompanhar a gravidez, tem de ser um médico que fale espanhol ou achar alguém que possa acompanhar em toda consulta. São muitos detalhes.

Você vai ter a oportunidade de conversar com os fãs no chat ao vivo hoje, às 18 horas. Espera que perguntem tudo isso, quer ter uma chance de falar?

Sim, espero que pergunte porque eu não falo alemao, é difícil conversar com repórter só com intérprete. Ás vezes, o repórter pergunta e o intérprete fala outra coisa totalmente diferente. Então de repente as pessoas não entendem o que você quer falar, é chato pra mim, eu tento me esforçar ao máximo para aprender o alemão o mais rápido possível, mas é difícil.

Está conseguindo um pouquinho?

Um pouco, o básico do futebol dentro do campo eu já sei mas é difícil conversar, ler e escrever principalmente, é muito difícil.


Você fala inglês?

Um pouco também. Mas eu espero que com esta entrevista as pessoas entendam um pouco meu lado também, sou um ser humano, tenho família, já tive conversas até com o Hans, o chefe da assessoria de imprensa sobre estas coisas, um jornal que não quero citar o nome publicou dois dias atrás algo como "Lima Katastrophe“!
A gente fica desanimado com estas pessoas que não entendem, que não tomam cuidado com as coisas que falam e, como repórteres, só querem vender jornal. Eu tudo bem, eu vivo do futebol, para mim entra por um ouvido e sai pelo outro. Mas minha esposa, que tá grávida, minha filhinha, meus pais, eles não entendem isso, para eles isso tudo fica "armazenado“ ali, é difícil.
Quem conhece futebol e joga futebol sabe que a pessoa não vai te dar resultado em um mês. São quatro anos de contrato aqui, é uma vida para construir na Alemanha.

Quer ficar até o final do contrato, 2011?

Claro, até mais, 10, 15 anos eu fico.

E sente diferença dos fãs?

Converso com minha esposa sobre esta diferença. No Brasil é aquela torcida, gritando, berrando, aqui tudo tranquilo, eles vem pedir autógrafo educamente, te agradecem...
Lá é aquela euforia, aquela coisa da torcida invadindo o campo no treino. Digo a minha esposa que, se tivesse um estádio deste no Brasil sem alambrado, o pessoal ia invadir o campo para brigar com o juiz caso ele errasse. Você sente isso, querendo ou não. O Gilberto também teve esta fase de adaptação, isso que as pessoas tem de entender, adaptação é a base de tudo.



E o que acha que dá pra fazer da sua parte para reagir, para dar "uma guinada“?

Agora tem uma semana e meia de trabalho, sem jogo, sem nada. Essa uma semana e meia vou tentar reanimar.
Hoje estava meio desanimado, além das coisas do futebol, a gente também é ser humano, fica escutando e lendo tudo isso, sua família está lendo, as pessoas ligam, meu pai, minha mãe, todo mundo liga falando das criticas.

Tá chegando tudo no Brasil?

Tá chegando sim, todo mundo comenta e a imprensa brasileira só me apóia, fica mais difícil de entender. Tenho muita fé em Deus que próximo jogo vou começar mostrar meu futebol, o pessoal só tem que ter um pouco de paciência, uma hora ou outra vou voltar a fazer o que fazia no Botafogo.

E o treinador mesmo com esta pressão e críticas, continua te apoiando, tem falado para não esquentar a cabeça?

Sim, ele tem me ajudado muito mas claro que a gente sabe que tem um limite. Eu não sei se o limite dele já estourou mas eu só tenho a agradecer a ele e quero retribuir isso ajudando a equipe. Tanto que os três primeiros jogos que fiz a gente ganhou, mesmo eu não fazendo o gol mas ajudando, estou aqui também pra ajudar.



E isso é mais importante do que até do que o gol, poder ajudar a equipe a vencer?

O importante é sempre ajudar, depois os meus gols, importante conseguir os três pontos do jogo. O gol é a consequência de um trabalho, uma oportunidade que se tem que eu não tive até agora desde que cheguei.

E como se não fossem problemam suficientes, ainda pioram com as críticas da imprensa alemã...

Tenho evitado há duas semanas de falar com alguém da imprensa alemã, com alguém que não fale a minha língua porque eles não me entendem e não quero ser mal interpretado. Se eu vou falar de um jeito e eles vão ouvir de outro, prefiro nem falar. Também não tenho vontade de ficar explicando um por um o que está acontecendo.
A imprensa no Brasil é ainda pior porque incentiva a torcida, leva ela junto e ela quer brigar com o jogador.
Semana passada deu problema no jogo do Botafogo e a torcida invadiu porque eles estavam perdendo.
Mas pelo menos eles (os jornalistas) entendem o que você está falando. Agora, aqui eles são alemães, não entendem exatamente o jeito brasileiro. E a gente tem de fazer sempre diferente, tem de fazer uma pedalada diferente, coisa que o alemão não sabe fazer, o alemão sabe bater, sabe marcar, sabe correr.

E qual o seu contato até agora com a comunidade brasileira?

Estive na Embaixada para resolver um problema de documento da minha filha, conheço o Favela Café e a Churrascaria Brasil Brasileiro.

N.R. Que este desabafo feito pelo André para reportagem seja corretamente entendido e que ele tenha paz neste tempo de adaptação, para conseguir fazer os herthanos tão felizes como fez os botafoguenses...


4 comments:

Unknown said...

Muito bem Sandra! Ótima entrevista, parabéns!

Ficou muito melhor em Portugues, realmente aproveitaram muito pouco em alemao no BZ!

Beijos!

Sandra Mezzalira Gomes said...

Obrigada Alessandra!

Realmente o papel costuma ser caro e os jornais nunca conseguem aproveitar todo o material que coletamos. O que é uma pena por um lado mas...

...viva a internet e seu "espaço ilimitado"! Sem falar que a natureza agradece...
;-)

Na Brazine acontecia a mesma coisa e foi por isso que surgiu a coluna On line na época.

Então o negócio (e a tendência) é continuar resumindo o que será impresso e aproveitar aqui para dar o serviço completo ao leitor!

Um abraço!

:o)

Anonymous said...

Sandra,bom dia.
Eu li sua reportagem da exclusiva com o jogador André Lima.
Fiquei muito satisfeito com os esclarecimentos dele que você pôde nos direcionar, essa fase que o André está passando no Herta vai passar logo se Deus quiser e ele mostrará aos torcedores e reporteres alemãs oque nós botafoguenses já sabemos.
Se você tiver oportunidade que reencontrá-lo, diga que nós (torcedores do Botafogo) estaremos torcendo muito por ele, onde quer que esteja,quer dizer, aí no Herta ou aqui no Fogão, tanto faz, ele merece nosso apoio.
Um grande abraço fraterno, e parabéns pelo esclarecimento que você nos proporcionou Sandra.

Sandra Mezzalira Gomes said...

Obrigada Diógenes, mandei para o Andre seu email, espero que o motive a não desistir de lutar, o começo é sempre difícil....

Legal saber que vc acompanha o blog, antes do Natal virá uma matéria com o Daniel Teixeira, não sei se o conhece, do Union Berlin, outra exclusiva...

Um grande abraço e continue comentando! :o)