Wednesday, December 20, 2006

"Srs passageiros, o avião está quebrado!" Parte 1


Parece filme, mas é pura realidade. Quando me dirigi ao aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, duas outras rotas que havia feito pelos céus do Brasil, já tinham sido com atrasos.

Por isso garanti novamente meu “kit apagão aéreo”e esperava, mesmo, que o vôo da Gol 1759 não sairia às 17:30 como marcado.

Mas só as companhias aéreas podem atrasar então compareci pontualmente para o check-in e tive a confirmação de que sairíamos com, pelo menos, uma hora depois do previsto.

Após rodar o aeroporto, gastar 3,40 reais por um salgado e 4,00 em um café expresso duplo, vou à sala de embarque e me informo que sairemos às 19 horas, quando, na verdade, deveríamos já ter pousado no nosso destino, Campinas.

Forma-se a fila para entrar no avião e observo os passageiros, pensando como seriam as reações na Europa.

A mulher que carrega o bebê parece exausta, mas continua de salto alto, maquiada e sorrindo.

A menina que tenta furar a fila, como se assim chegasse mais rápido ao destino, impaciente.

Outra, comenta otimista que, agora, talvez ainda consiga chegar ao jantar de formatura, motivo de sua viagem, pois a missa, já tinha perdido.

Para agilizar o embarque, abrem-se as duas portas. Um senhor arranca risadas ao procurar seu assento e, quase no fim da aeronave, indagar inocentemente: “será que comprei o lugar no banheiro?”.

Ouço a pergunta que outro senhor e seu filho fazem para o passageiro atrás de mim: “Viracopos fica longe da rodoviária de Campinas? Ainda temos de achar um “Prata”para Bauru...”.

Quase me intrometo para explicar que há, sim, um ônibus da Viação Prata em Campinas, afinal, fiz a Unesp-Bauru e usei-o, muitas vezes.

Mas me distrai observando a moça ao meu lado, que despenca de cansaço na cadeira do corredor e demonstra certo mau humor com a situação.

Todos ajeitam as bagagens, fecham portas, apertam os cintos e se preparam para a decolagem.

Avião pronto, o piloto liga o motor e avisa: “Srs passageiros, aqui fala o comandante. Estamos com problema de super aquecimento no motor. O avião está quebrado e não pode ser consertado aqui no pátio. Teremos de levar a aeronave daqui e os senhores terão de descer, sinto muito.”

Um olha para o outro e pensa, não pode ser verdade.

Ligo o celular para avisar meus pais que, a essa altura, esperam em Viracopos, só Deus sabe o que vai acontecer.

Meus 40 reais de créditos colocados no dia anterior se vão rapidamente, nestas várias ligações, e começo a economizá-los, já que não há minha operadora no aeroporto mineiro. Somos, então, “premiados” com uma tarja laranja, um cartão de embarque substituto, que acaba por nos destacar dos outros passageiros na sala de embarque.

Pelo menos 30 minutos se passam, sem sabermos o que será de nós. Quando, finalmente, recebemos alguma satisfação das já irritadas e cansadas funcionárias, ouvimos que a previsão é de decolarmos às 21:30, quatro horas de atraso, exatamente o limite da companhia aérea para começar a indenizar prejuízos aos seus clientes, comenta alguém.

Que remédio, temos que arcar, nós mesmos, com as despesas do jantar, no meu caso, um “cheeseburguer” por oito reais!

Nos distraímos, conversando e trocando histórias e problemas causados pelo atraso.

Ligamos para a imprensa mas, ainda que outros dez vôos estivessem atrasados, naquele momento não valíamos a notícia.

Aliás, já virou cena comum ter problemas com a aviação brasileira, acho que agora só colapsos e acidentes forçam os repórteres a saírem de suas cadeiras.

Sentimos dó, ainda, da mulher que queria ir para Maceió. Primeiro se revoltara ao descobrir que havia desembolsado 479 reais em uma passagem e descobriu, no aeroporto, que outra aeronave faz o mesmo trajeto, no mesmo horário, por 79 reais.

Depois, por causa do atraso da conexão de Belo Horizonte para Salvador, perderia o vôo para Maceió.

Como eram de companhias diferentes, nenhuma das duas se responsabilizava por nada e, muito menos, por ajudá-la. E

pior ainda para o garotinho que viajava sozinho e tinha de ficar “preso” com as funcionárias em frente à porta do embarque por todo aquele tempo. Embarcamos então pela segunda vez às 21:30.

Alguns se descontrolavam cobrando pelo menos um jantar por parte da companhia.

A garota do meu lado, que, de início, fora um pouco seca, agora já trocava palavras e informações: ainda viajaria de Campinas para Sorocaba e teria de ir atrás de um táxi, já que a pessoa que a esperava, desistira.

Avisei também os dois que pretendiam ir para Bauru sobre a existência do Prata e desejei-lhes boa sorte.

Tínhamo-nos visto desde as 17 horas e agora, quase 22 horas, dentro daquele avião, parecíamos estar, todos, literalmente no mesmo barco.

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