Saturday, July 30, 2011

Cenas de Berlim: rede no parque

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Para um brasileiro, já não é comum a idéia de colocar um biquini, pegar uma canga e ir para o parque tomar sol ou nadar num lago no meio da cidade.

Aqui em Berlim, uma das cidades mais verdes da Alemanha, é possível tomar sol de biquini, pelado (o que, especialmente os mais velhos, fazem) ou ainda, levar a rede junto para curtir o verão europeu no "quintal coletivo"...



Cenas registradas no Viktoria Park, Kreuzberg, por Sandra Mezzalira Gomes

Link Europa: Faça você mesmo ou pague o preço

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Por Sandra Mezzalira Gomes

Ao chegar ao posto de gasolina, o motorista desce do carro e o abastece; enche o radiador, verifica o óleo e vai ao caixa, onde uma única funcionária recebe então o pagamento. No caso de um posto em Wedding, ela ainda coloca a nota numa máquina que a examina, calcula e devolve o troco num pratinho.

Para fazer a mudança de um apartamento, normalmente aluga-se um pequeno caminhão, convida-se os amigos para, em troca de comida e bebida, ajudarem a carregar tudo. Monta-se e desmonta-se a maioria dos móveis, orientando-se pelos manuais. Ah, antes de sair da casa, todos colocam a “mão na massa” para reformá-la.

A limpeza rotineira da casa não é diferente. A grande maioria faz, sem auxilio de outra mão-de-obra remunerada. Sim, é possível ter faxineira. Para os que querem se dar ao luxo, elas são contratadas, geralmente, por cerca de 10 euros ou mais, a hora, e a média é tê-la, então, por uma vez na semana, durante três horas.

Manicure, pedicure, depiladora, cabeleireiro, massagista, são outros “luxos” que um cidadão pode se dar, mas não são considerados “serviços essenciais”, muitos também improvisam nestas áreas, procurando ser autosuficientes, para não pesar no orçamento mensal.

Fato é que um brasileiro normalmente vai ter de “penar” muito para conseguir se virar tão bem quanto os europeus. Aqui na Alemanha, com 18 anos costuma-se sair da casa dos pais e tentar virar realmente adulto. Independente se é homem ou mulher, cozinhar, passar, lavar roupas, limpar, cuidar do jardim, entre outras atividades, são integradas na rotina.

Aqui existem todos os serviços, mas eles têm seu preço. O trabalho braçal é devidamente valorizado (em alguns casos, a faxineira, por exemplo, pode ganhar mais que uma pedagoga!) e o quanto mais se aprender a “fazer você mesmo”, mais independente e rico se é. E a consequência desta equivalência salarial é também uma diminuição da diferença de classes. Num barzinho, provavelmente a faxineira e a pedagoga vão sentar-se lado a lado e poderão pedir a mesma refeição.

Já a escassez do espaço também gera interessantes atividades comunitárias como “associações para cultivadores de jardins”. Sim, as pessoas utilizam seu tempo livre para plantar em terrenos alugados em conjunto com outros, estranhos que querem, mesmo vivendo numa cidade grande como Berlim, manter o contato com a natureza, sentir na pele o suor de realizar um trabalho e ver o resultado, literalmente, crescendo.

Ser independente e fazer por você mesmo traz, além de uma competência ampla em diversas áreas, a vantagem de saber o quanto aquele trabalho é ou não difícil. E ainda, como deve ser feito, fundamental para se poder analisar o resultado do mesmo.

Quando comparo minha vida aqui com a que tinha no Brasil, brinco que era “madame” e não sabia. Hoje escuto de brasileiros que estão muito mais caros vários tipos de serviços e que está difícil achar os empregados “de confiança e em conta” nos últimos tempos. Já ouvi até alguns desabafos do tipo: “Eles querem que todos os encargos sejam pagos! Querem vale transporte, alimentação e ainda serem registrados por “x” ao mês...” Pois é, como todo mundo que trabalha, quer.

I love pepinos”

Com este “slogan” o time espanhol FC Sevilla apresentou o seu novo uniforme nesta semana. O “I love pepinos” estão a partir de agora no braço direito da camiseta vermelha e branca no intuito de apoiar os agricultores de Andaluzia. Os prejuízos causados por causa da suspeita inicialmente levantada pelos alemães, de que a bactéria E.coli (EHEC) teria sua origem no pepino espanhol, estão em torno dos 200 milhões de euros.

Aliás, em Berlim faz apenas duas semanas que nenhum novo caso foi detectado. Ou seja, a bactéria continua por ai, mesmo que não se fale muito mais nela.

Crescimento econômico da América Latina

Enquanto a Europa “luta” para não deixar o euro despencar, os jornais alemães noticiam o crescimento da América Latina, constatado nesta semana pela Comissão Econômica para América Latina (Cepal). Do México à Argentina, o PIB está crescendo em média de 4,7%.

A principal causa seria a diminuição do desemprego e o aumento então da capacidade de consumo,
que aquece a economia. Especialmente na América do Sul a economia está em plena expansão.

O impresso Berliner Zeitung usa o Brasil como exemplo, mostrando um crescimento de 7,5% em 2010. O gráfico aponta, no entanto, um descréscimo desta porcentagem em 2011 e 2012, tanto para o Brasil como México. Mesmo assim, o Brasil deve crescer, em 2002, 4,1%

Tuesday, July 26, 2011

Cenas de Berlim - carrousel ambulante

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Pelo tanto de turistas que circulam pela capital germânica e as dezenas de eventos (casamentos, aniversários, primeira comunhão, iniciação escolar...), é de se entender que a criatividade é importante no mercado de entretenimento para atrair os clientes.

Assim, é possível ver "taxis bicicletas", desde o estilo em que os passageiros sentam atrás e são "puxados" pelo ciclista, até uma "bicicleta giratória gigante" para grupos, nos quais todos pedalam como se estivessem num girador.

Limousines e carruagens são ainda relativamente comuns no trânsito berlinense, especialmente na região da Kuddamm ou Hackescher Market.  Carros antigos, os Trabis (típicos da Alemanha oriental), modelos originais, extravagantes, a concorrência é grande.






Mesmo assim sempre há quem consegue inovar. Qual a intenção e a ideia de negócio do proprietário deste carrousel ambulante estacionado numa rua do Wedding, nesta segunda-feira, não consegui descobrir. Mas foi a primeira vez que me deparei com este brinquedo também adaptado a um tipo de "veículo". Coisas de Berlim, cenas de Berlim.






Link Europa: Muitas perguntas, poucas certezas

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Muitas perguntas, poucas certezas

Por Sandra Mezzalira Gomes

Por que e como os países se endividam? Por que não se deixa, então, eles falirem ou se perdoa a dívida? Por que não economizamos mais? Por que estamos em crise econômica? O euro vai conseguir resistir e manter seu valor? Seria melhor voltar ao tempo em que cada país tinha a sua moeda?

Várias perguntas pairam no ar, especialmente após o anúncio de que agora, a Itália precisa de ajuda. Após Portugal, Irlanda e Grécia, que foram devidamente socorridos mas nem por isso sairam completamente de suas crises internas, é a vez dos italianos gritarem por auxilio. Especialistas temem que, em breve, Espanha também poderia apelar para a União Européia.

Durante toda esta semana, análises e debates estamparam jornais, tematizaram programas de discussão e até entre leigos virou assunto. “Por mim, voltava-se ao tempo do marco alemão”, defende o berlinense André Schäfer. Ele acredita que apenas numa sociedade mais regionalizada, consegue se atender direito às necessidades de seus membros. “Sou contra a unificação”.

Poucos são tão radicais como André, mas a maioria concorda que é necessário rever todo o processo para que a comunidade se fortaleça. De acordo com uma pesquisa divulgada na última sexta-feira, 86 % dos alemães temem pelo futuro do euro.

Ricos têm de ajudar os pobres. Assim defende Sofia Campos, portuguesa, ao ser indagada sobre a crise européia. “O problema é que, muitas vezes, o dinheiro enviado para tirar os países das dificuldades acaba ficando nas mãos de corruptos”, admite.

Além da corrupção, a Grécia, por exemplo, não divulgou seus números corretamente, causando agora um clima de desconfiança entre a CE, mais complicado do que a crise em si.O momento é tenso. Mesmo entre especialistas há falta de consenso para soluções. Os problemas que afetam ainda a economia americana, refletem igualmente no mercado europeu.

Por outro lado, países como França e Alemanha continuam ganhando com os juros dos empréstimos e mesmo o câmbio baixo é uma vantagem para os exportadores, como Alemanha.

O princípio do Euro é que todos tem uma única moeda, mas cada país seja responsável por suas finanças. Alguns deles falharam nesta tarefa. Mesmo com todos os “poréns”, não se cogita ainda uma dissolução da Comunidade Européia, ao contrário, fala-se de mais discussões em conjunto para se encontrar soluções efetivas e claras para sair da crise. Mas sabe-se que não será um processo rápido. Ao contrário, precisará de tempo, vontade política e várias reformas.

Balanço positivo da Copa Feminina de Futebol

Hoje o Japão enfrenta os Estados Unidos na final da Copa Feminina de Futebol, em Frankfurt. O evento se encerra com “balanço positivo”. Em termos técnicos, apesar de muitos erros de passes, os jogos foram atraentes e disputados.

A torcida se interessou mais do que nas edições anteriores e várias partidas ocorreram com estádio lotado. A gastronomia e a propaganda também lucrou com a presença de fãs e venda de produtos. As jogadoras ficaram mais conhecidas e influentes, produzindo blogs, sendo entrevistadas com frequência e assediadas pelos torcedores.


Alguns pontos negativos, no entanto, ainda precisam ser repensados para progredir. Ao lado dos passes errados, a arbitragem foi alvo de várias críticas, principalmente pelo excesso de escolhas equivocadas. Se alguns anos atrás, as mulheres defendiam ter um futebol “limpo”, a violência por um lado e simulação de contusões para cavar faltas, mostram que não há mais muita diferença em relação ao masculino.

Foi dito que as mulheres são cerca de 20% mais lentas que os homens, mas nem por isso deixam de desenvolver partidas interessantes, jogadas extraordinárias ou chutarem “golaços”. Falta agora também receberem um salário digno como o dos homens. O que, infelizmente, deve demorar alguns anos ainda para acontecer.

Thursday, July 07, 2011

Cenas de Berlim - bolas de sabão gigantes

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Por Sandra Mezzalira Gomes (texto e fotos)

Segunda-feira, 4 de julho. O verão faz uma "pausa", os últimos dias são chuvosos e nublados, temperatura abaixo dos 20 graus.

Vendedores de "equipamentos para fazer bolas de sabão gigantes" não desanimam e demonstram o produto em frente a estação de trem Hackescher Markt.

Provocam risadas dos que observam pessoas sendo surpreendidas pelas bolas voadoras ou ainda, por aqueles que tentam escapar delas. Turistas aproveitam para fotografar a inusitada cena. Eu também.





Monday, July 04, 2011

O essencial é invisível para os olhos (coluna Link Europa)

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 crédito da foto que ilustra a coluna Link Europa no Jornal de Jundiai: MARCIA DE SOUZA LINO

Texto publicado no domingo, três de julho de 2011, no Jornal de Jundiaí.


O essencial é invisível para os olhos

Por Sandra Mezzalira Gomes

A alegria contagiante do riso das duas crianças desviou minha concentração do jornal que eu lia na terça-feira de manhã. A verdade é que as viagens nos transportes públicos costumam ser silenciosas (exceto pelos trens de superfícies que podem ter um chiado super irritante e claro, turistas!), quase todos concentrados nos seus próprios universos, a maioria lendo.

Naquele dia, o trem silencioso se enchia com a risada do garotinho e da garotinha (4 e 2 anos?) que brincavam com seu pai e sua mãe. O pai, falando um pouco alto para os padrões daqui, levantava a menininha no ar e arracava risos dela e do irmão. A mãe também interagia carinhosamente com os três.

Sorri internamente, observando com discrição aquela família que, ao contrário de diversas pessoas naquele trem, não exibiam uma cara amassada de “acabei de acordar”, muito menos parecia se preocupar com o novo dia que estava para ser enfrentado.

Ao pararmos na estação Stadtmitte, meu sorriso interno se transformou em imensa admiração. O pai beijou as crianças, se despediu e, segundos antes de levantar, tirou do bolso um objeto semelhante a uma varinha mágica, inclinou-o para o chão até transformá-lo na sua “bengala” que serviria então para guiá-lo não apenas para desembarcar do trem, como para continuar um dia que parecia rotineiro para a família.

Só então o reconheci. Semanas antes tinha comentado a situação que vivi com meu pai, quando um senhor carregava sua filhinha “de cavalinho” nas costas e o filho caminhava ao lado. A garota, naquela ocasião, deixou cair a tampa da sua garrafa de suco e eu, que também desembarcara na estação Mehringdamm, corri até os três com a tampa na mão para entregá-la.

Alcancei-os na escada rolante, bem no momento em que o pai, orientando-se pela bengala, procurava o caminho, mas o menininho quase “se enroscara”. Ajudei-o a subir a escada, entreguei a tampa da garrafa e só então realmente percebi que ele era cego. Ele agradeceu, as crianças sorriram para mim, me despedi ainda observando o seu esforço carregando a menininha nos ombros, checando se o menino ainda estava ao seu lado e procurando o caminho.

Vários pensamentos passaram pela minha cabeça naquele dia: “quem é a mãe que deixa o pai cego com as duas crianças? Será que ela também é deficiente visual? Quanta coragem ou loucura precisa ter uma pessoa para sair com as crianças assim? Será que ele conseguiria se virar numa outra cidade que não tivesse a mesma estrutura que Berlim tem?”.

Nesta última terça-feira em que tive o prazer de observar a alegria dele, das crianças e da sua esposa, todas estas questões me pareceram insignificantes. Sua mulher parecia enxergar muito bem e estar totalmente satisfeita ao lado de um homem que, além de corajoso ou louco, é carinhoso, feliz e não tem vergonha de mostrar suas limitações, nem de lutar para levar a vida da maneira mais normal possível, apesar das dificuldades. Meus problemas e preocupações também se tornaram mínimos com esta inspiradora vivência.

Ele desceu na Stadtmitte, despedindo-se com um “tenham um bom dia” bem alto para sua família. Na parada seguinte da linha U6, na Fransösiche Strasse, a mulher ajeitou a menina no carrinho, arrumou a mochilinha nas costas do menino e desceu do trem. A última cena que vi foi a garotinha colocando cuidadosamente seus óculos escuros para se proteger do sol e conseguir enxergar bem. Apesar de provavelmente já ter aprendido com o pai, desde pequena, que o essencial é invisível para os olhos.  

E-mail para contato infobrasa@gmx.de