Sunday, June 24, 2007
Luizão revela vontade de voltar para o Hertha Berlin
O mérito da entrevista com o jogador Luizão é do colega Alexandre Lozetti que mora em São Paulo e trabalha para um grande veículo de comunicação especializado em esporte.
A pedido do Berliner Zeitung (BZ), Alexandre encontrou Luizão no Centro de Treinamento do São Paulo e realizou a entrevista a seguir.
O jornal alemão, que em março trouxe matéria com Alex Alves, está interessado na atual situação dos antigos jogadores do Hertha Berlin.
Luizão foi o segundo brasileiro que atuou pelo time e teve uma passagem rápida. Problemas com o técnico da época teriam inibido a vontade e criatividade dele, que agora negocia com o São Paulo mas não esconde a vontade de voltar para Berlim.
A tradução para o alemão foi feita pela repórter que redige este texto e a matéria foi publicada no último domingo, 17, com destaque, como a “entrevista do domingo”.
Colaboraram ainda neste trabalho o renomado fotógrafo Ari Vicentini, que “coordenou” o trabalho em São Paulo e Reginaldo Castro, o profissional que acompanhou Alexandre para registrar as imagens do Luizão.
A seguir, na íntegra e com exclusividade já que tal texto só saiu em alemão e na capital germânica, a reportagem com Luizão, por ALEXANDRE LOZETTI.
“No caminho para a entrevista, no Centro de Treinamento do São Paulo, Luizão distribui sorrisos. Brinca com os jardineiros, as funcionárias, o auxiliar de preparação física. Luizão é assim, alegre. A alegria que faltou ao atacante durante os dois anos que passou em Berlin. Apesar do bom apartamento, carros de primeira linha, adaptação de toda família à cidade e ao clima, faltava um detalhe: "Eu não era feliz porque não jogava. O treinador não tinha confiança em mim".
O treinador em questão é Hubb Stevens, o grande "inimigo" de Luizão em sua passagem pela Alemanha. Ao chegar, campeão mundial pela Seleção Brasileira, o atacante despertou sentimentos controversos. Ao mesmo tempo que era cercado de expectativa por ter conquistado o mais importante título do futebol mundial, recebeu uma cobrança que considerou desnecessária. Stevens o colocou no banco de reservas, algo até então inédito em sua carreira. "Não sei o que aconteceu, mas eu ganhava mais que ele. Talvez tenha sido ciúme".
Hoje, aos 31 anos, Luizão continua em bons apartamentos, com bons carros e ao lado da esposa, Mariana, e da filha Yasmin. Viver bem é uma característica do jogador. Mas a alegria também não está completa. As lesões, que tanto o atormentaram no Hertha Berlin, ainda incomodam. Em janeiro, o atleta operou o pé direito e segue em recuperação no São Paulo, clube pelo qual foi campeão da Copa Libertadores da América em 2005. No segundo semestre, Luizão deverá estar liberado para voltar aos gramados. Aguarda propostas e revela o desejo de voltar à Alemanha: "Gostaria de voltar e mostrar o verdadeiro Luizão, apagar a imagem que ficou na primeira passagem".
Mas o jogador, campeão inúmeras vezes na carreira, não carrega apenas más lembranças da capital alemã, ao contrário. A amizade com Alcir, tradutor do Hertha, os restaurantes, o respeito da população local pelo seu currículo... Luizão volta a Berlin sempre que pode. A última vez foi na Copa do Mundo de 2006. O atacante foi um dos homenageados da abertura, em Munique, e aproveitou para prolongar a estadia no país. "Aqui no Brasil, o reconhecimento só vem depois. Lá fora as pessoas respeitam sua história".
Planos? Luizão pensa apenas em continuar jogando. Garante que tem muito a mostrar dentro de campo, sobretudo aos que o consideram velho e sem condições físicas.
O que houve em sua passagem pelo Hertha? Por que não foi o que você esperava?
Quando cheguei a Berlin, fui muito bem recebido, não tenho do que reclamar. Era campeão do mundo e sempre cheguei jogando nos clubes em que passei. O jogador sempre precisa de uma seqüência para poder se adaptar. Você vai mal no primeiro, segundo, pode repetir no terceiro e quarto, mas no quinto você engrena.
E você não teve essa seqüência de partidas?
O treinador, Hubb Stevens, já me colocou no banco. Eu nunca tinha ficado no banco na minha vida por muito tempo, lá é uma cultura diferente. Ele ficava gritando no meu ouvido, fui perdendo a confiança.
Seu único problema foi o Stevens?
Não, as lesões também atrapalharam. Quando fiz o primeiro gol, tive que fazer uma cirurgia, no final da primeira temporada. Voltei, comecei a jogar bem e machuquei de novo. A primeira lesão foi na hérnia, a segunda no músculo da perna. E não curava nunca. Na Alemanha, há uma lei que o impede de receber após determinado tempo parado. Para não ter confusão, abri mão do meu contrato. Eles nem acreditaram, pelo salário que eu tinha. Pagaram o que me deviam e fui embora. No Brasil sou um ídolo, as pessoas me respeitam. Sabem que posso errar, mas a qualquer hora eu decido um jogo.
E com o treinador, o que exatamente aconteceu?
Logo que cheguei, comprei dois carros à vista. Ganhava mais que ele, apareci na capa do jornal. Isso talvez tenha colaborado.
A expectativa era grande por você ter conquistado a Copa do Mundo?
A expectativa era muito grande por eu ter o maior salário, ter feito um contrato milionário. Não sei o que aconteceu, não tive tranqüilidade. Não sei se era ciúme do treinador. Gostaria muito de ter trabalhado com o Falko Götz, que comandou a equipe há pouco tempo. Quando o Hertha me contratou, o treinador era o Götz, mas ele já havia sido demitido. O Alex Alves contava que ele passava confiança aos jogadores e, no futebol, isso é tudo. O Stevens não confiava em mim.
E sua adaptação à cidade, como foi?
Tive uma adaptação boa, fiz amigos, tinha um pessoal que me ajudava bastante. O Alcir, tradutor do clube, o Ronaldo, da embaixada brasileira. Freqüentei muito um restaurante espanhol, outro italiano, era amigo dos donos. Sempre volto a Berlin para passear. Não era feliz dentro de campo porque não jogava.
Ainda acompanha a equipe, ainda fala com os dirigentes?
Tenho amizade com o presidente Dieter Hoeness. O gerente foi um dos que ajudou na minha contratação, sempre nos demos bem. Acompanho o time sempre, sou bem recebido lá. Na última vez que nos vimos, o presidente esteve no Brasil, dei uma camisa do Flamengo a ele. Saímos para jantar, falei alemão com ele, ele nem acreditou.
Você fala alemão?
Nós éramos obrigados a estudar o idioma, mas quando eu brigava com o treinador, parava de fazer as aulas, por pirraça.
Era complicado se comunicar com os companheiros?
Não, tinha alguns brasileiros. Eu, Alex Alves, Marcelinho, Nenê, o Nando, que era angolano, o Roberto Pinto, português. Os companheiros gostavam de mim, inclusive os alemães. Eles respeitavam o que eu havia conseguido, tem muito valor ser campeão do mundo. Hoje falo mais com o Alcir, esse virou meu amigo.
Como era a rotina em Berlin?
Morava num apartamento bom, tinha carro bom, minha filha estudava numa boa escola. Frqüentava muito o restaurante Don Quixote. O dono me ajudou muito, lá eu tinha uma vida mais quente, fazia o prato que eu queria. Ia no Picolo Mondo, também, este italiano. Fazia meus passeios.
Levou toda a família para a Alemanha?
Foi todo mundo. Eu, minha esposa Mariana e minha filha Yasmin, que estava para completar um ano na época. Lá nós ficávamos muito juntos, o contato era constante. Elas também gostavam de lá, se adaptaram bem.
Sua filha foi alfabetizada em alemão?
A Yasmin chegou a estudar lá, aprendeu algumas coisas em alemão, mas em casa falávamos português. Então ela mesclava um pouquinho quando foi alfabetizada.
Você tem muitos amigos no Brasil. Em Berlin, os brasileiros eram tua companhia?
Quando o Nenê estava lá, a gente saía bastante, era mais escolado. O Alex era meio difícil, mais fechado. Não falava muito bem a língua e depender dos outros é horrível.
Houve algum problema com a dificuldade do idioma?
Uma vez, dei uma entrevista e saiu uma matéria em que eu não havia dito nada daquilo. Chamaram minha atenção no clube, o Alcir, que estava ao meu lado, comprovou que eu não tinha falado. Mas mesmo assim mantiveram a bronca.
Mas você falou bobagem mesmo, ou foi maldade do jornalista?
Foi maldade de quem fez a entrevista e do Stevens, que interpretou dessa forma.
E com o frio, teve problema?
O clima, para mim, era tranqüilo. Quando aqui está um, dois graus, lá são dez negativos. Mas aqui faz uma vez por ano, lá é freqüente. O dia acaba mais cedo. Mas nada disso me incomodava, só não era feliz dentro de campo.
Gostaria de jogar novamente em Berlin?
Gostaria de voltar e mostrar o verdadeiro Luizão, apagar a imagem que ficou na primeira passagem. Tenho vontade de voltar à Alemanha, sim.
E o Hertha seria o clube favorito?
Prefiro o Hertha para retornar. Mas jogaria em qualquer outro lugar, é que aprendi a gostar do clube, da cidade.
Alguns brasileiros têm problema com a religião quando deixam o país.
Sou católico de Deus. Acho que para conversar com ele, não precisa estar pregado à Bíblia ou à igreja o tempo todo. Então rezo, converso com ele sempre e mantenho minha fé.
Esteve na homenagem aos campeões mundiais, na abertura do Mundial?
Passei sete dias com minha mulher após a abertura da Copa. Foi muito emocionante estar no meio de campeões mundiais brasileiros e de outros países. Muitos, hoje, passam dificuldades, não têm o carinho das pessoas. Veja o Félix, na cadeira de rodas. Esse reconhecimento é muito bacana.
Conversou com alguém especial, de outro país?
Fiz questão de falar com o Mario Kempes, da Argentina. Acho que ele tinha um estilo meio louco de jogar, sabe? Combina um pouco comigo. Conversei com ele, com os outros argentinos, perguntaram minha idade. Eles também se espantaram que estou tão novo. Na época eu tinha só 30.
Esse reconhecimento deve ser muito valioso para um campeão mundial.
É bom ser reconhecido. No Brasil, isso só tem valor depois. Lá fora, tem muito valor. Se contarmos, não deve haver 200 campeões mundiais vivos no mundo inteiro. É um orgulho muito grande para quem conseguiu e é preciso haver muito respeito. Acho que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) deveria arrumar um cargo para todos que foram campeões mundiais, cada um na sua cidade, ao menos para terem uma vida digna.
Em Berlin você tinha era respeitado como um campeão do mundo?
As pessoas vinham falar na rua, eu era muito respeitado. É gostoso viver em Berlin. Meu problema foi apenas com o Stevens. Ele queria me ensinar coisas que eu já não precisava mais aprender.
Você disse que lia jornais, revistas. Tentava se ambientar ao mundo alemão?
Lendo jornais, revistas, a gente aprendia um pouco da língua. Eu me interessava por isso e o clube nos obrigava a estudar, o Alcir era nosso professor. Mas eu parava nas brigas com o treinador.
Como está sua recuperação agora?
A minha recuperação melhora a cada dia. Lá fora o mercado está se abrindo, aqui há algumas especulações. Mas quando eu começar a fazer treinos com bola, aparecer mais, as pessoas vão se lembrar de mim.
Qual clube você tem mais prazer em ver jogar?
Hoje, gosto muito do Barcelona, do Milan, taticamente, e o Liverpool. Temos que tirar o chapéu para o Rafa Benítez, treinador do Liverpool, que sempre chega às finais com um time comum.
E o melhor jogador do mundo?
O Kaká, hoje, é o melhor. O momento dele é muito superior ao dos outros. Ele ficou muito mais inteligente com o tempo, aprimorou a arrancada, ganhou força física. É um jogador completo. Acho que poderia melhorar apenas o cabeceio.
Dos clubes do exterior que você atuou, qual te deu mais prazer?
O La Coruña foi o mais legal. No Nagoya fiquei pouco, apesar de ter jogado mais que no Hertha. Mas a Espanha foi o melhor lugar. A comida, as pessoas mais quentes, o clima. Lá foi uma passagem muito boa, dentro e fora de campo.
Depois de quase três anos, tem algum recado para alguém do Hertha?
Recado, não. Um convite. Gostaria que o presidente Hoeness viesse conhecer o Centro de Treinamento do São Paulo. A parte de reabilitação física, fisioterapia. É um modelo para todos os clubes do mundo.
(Foto: Reginaldo Castro)
Sunday, June 17, 2007
Papai é o maior, papai é que é o tal
Meu pai sempre gostou de futebol. Mas desde o tempo que viveu no sul do Brasil, virou quase uma doença, um “colorado” fanático.
Primeiro, após assegurar no contrato nupcial que minha mãe jamais se tornaria gremista, o apoiaria nas intermináveis horas assistindo às partidas e comemoraria as vitórias, quando fez suas três filhas, já garantiu em seu cromossomo as “células coloradas” assim claro, nascemos torcendo para o Internacional.
Conformado em viver rodeado por mulheres – coloradas, bom lembrar – deixou-nos "relativamente livres” para escolher nossa relação com tal esporte.
A mais velha, super feminina, delicada, limita-se a acompanhar a seleção na Copa do Mundo e a permitir que as células torcedoras do “Inter” continue em seu organismo. Aceita alguns chaveiros e lembrancinhas mas usar uma camiseta, só se for por uma IMENSA soma com as quais ela possa garantir outras roupas muito melhores ou um desejo extremo do meu pai, “ilustro” assim para mostrar que tem de ser uma situação MUITO insólita.
Eu, a sanduíche, das três a mais “estabanada”, gostava de esportes de forma geral e até arrisquei “bater uma bola” na praia na minha adolescência mas, vários torções no tornozelo e outros tombos no vôlei e basquete, me limitei a natação, ciclismo e caminhadas.
Assistir futebol? Tem fases. Quando me assumi Palmeirense nos inícios dos anos 90 e logo tivemos o bicampeonato (93, 94), uau, torcia mesmo, acompanhava! Sai da faculdade, passou um pouco a febre, o Palmeiras, cá entre nós e que nenhum corintiano leia isso, está meio capenguinha...mas o Inter, ah, deste sei tudo, querendo ou não! E torço SEMPRE!
Claro que já vesti, umas duas ou três vezes na minha vida, a camiseta! Só não foram mais porque realmente elas não são muito femininas mas quem sabe um dia meu pai não me dá um “top”, tipo blusinha e acredito que, principalmente nos dias atuais, usarei com mais orgulho que a do Palmeiras!
A mais nova, uma mistura de nós duas, veio com um pequeno defeito no gene e nasceu corintiana. Na verdade meu pai nem liga – eu, infelizmente sim – já que é nela que as células coloradas mais se desenvolveram – tanto que ela tem um top, camisetas e veste tudo!
E as células do futebol também afinal, se é pra defender o – me perdoem mas não posso evitar – (argh) “timão”, ela chega até a discutir (coisa que eu já encerro com a clássica “futebol, religião e política não se discute”).
Graças a Deus nossa educação também foi boa suficiente para nos amarmos muito apesar das diferenças e, exceto nos dias de jogo – se for clássico dos dois times, melhor uma sair de perto – raramente temos problemas no nosso relacionamento.
Este ano tive a oportunidade de sentir as células coloradas ainda mais ativas. Estive com meus pais no Beira Rio, tiramos fotos com as taças e foi emocionante perceber o interesse inclusive de estrangeiros no time, o orgulho dos torcedores gastando horrores com os mais variados produtos do Internacional, a bandeira e cartazes espalhados por toda Porto Alegre, São Leopoldo, Morro Reuters, Dois Irmãos....
Foi gostoso demais e acho que, neste momento, me contaminei com outra “doença” do meu pai, que ele claro, sempre controlou e disfarçou muito bem, com seu velho bom humor: me sinto desconfortável na presença de um gremista. Esta eu espero que não se desenvolva e fique só no nível de "tirar um sarro", afinal, futebol tem de ser visto como um esporte, uma brincadeira, uma paixão.
Agora, de todas as lições que aprendi nestes anos também com ajuda do esporte, a melhor foi sem dúvida: “papai é o melhor, papai é que é o tal”.
Sunday, June 10, 2007
Brasileira tem chance de mostrar cultura em telinha alemã
(a entrevista abaixo também está publicada no www.brazine.de)
Por SANDRA MEZZALIRA GOMES
Muitos brasileiros que vivem no exterior têm vontade de mostrar sua cultura. Para a paulista de Mirassol, Gilmara Rücker, de 29 anos, a oportunidade veio de uma forma saborosa e para uma grande audiência: ela participou do Das Perfekt Dinner, programa da rede de televisão Vox, e levou para a mesa pratos típicos (veja abaixo) da terrinha.
Pela primeira vez na telinha, a pedagoga Gilmara conversou com a reportagem revelando detalhes interessantes do bastidores, relatando sua experiência e constatando que valeu a pena afinal, além de ganhar cachê, conhecer novas pessoas, poder mostrar seus talentos e concorrer ao prêmio, ainda pode se comer uma semana de graça. Um prato, literalmente, cheio.
B: Como você teve a idéia de participar do programa?
G: Conheci a esposa do diretor num curso de alemão e desde então somos amigas. Eles comeram várias vezes na minha casa e sempre me incentivaram a participar mas esperei até ter confiança para falar o alemão melhor. Eles praticamente me inscreveram (risos).
B: Depois de feita a inscrição, o que acontece?
G: Há uma entrevista inicial com a câmera e algumas perguntas básicas como saber se tem experiência em cozinhar, se costuma fazer comida para várias pessoas, etc. É como um teste para saber se a pessoa também tem condições psicológicas para participar porque o estresse é grande. Demora então umas quatro semanas para saber se foi aceito.
B: E dá para trabalhar na semana da gravação?
G: Fica difícil, precisa deixar a semana praticamente livre para eles, está no contrato. Eu até tentei ir na escola um dia mas fiquei acabada. A maioria tira a semana de férias mas compensa. Você recebe 300 euros para participar e ainda, 300 para o gasto com o jantar mas ninguém usa tudo. Eu gastei uma média de 200,00 euros mas também, comprei pratos novos.
B: O que mais está no contrato?
G: Entre outras regras que você tem de estar disponível para as filmagens, tem de cozinhar as receitas que prometeu fazer e tem de atestar estar livre de doenças contagiosas.
B: Eles entrevistam todos os dias?
G. Sim, para comentar o menu que será servido à noite. O que mais demora, na verdade, são as entrevistas. E eles fazem sempre umas perguntas meio sacanas, de forma que fale mal do outro, eles tentam provocar para ficar picante. Tive de tomar cuidado para não ser mal entendida principalmente por não dominar totalmente a língua.
B: Mas é isso que faz o programa ficar meio 'Big Brother”, não acha? E nesta hora, entre a entrada e o prato principal, que enquanto o anfitrião cozinha, os visitantes vão “xeretar”. Vocês que escolhem para onde ir ou é a produção?
G: Como expectadora gosto de observar como cada um cozinha, aprender novos truques, novas receitas, isso faz do programa autêntico, gosto deste lado. Já o “tour” pela casa são eles quem determinam. Eles observam o que você tem de interessante. No meu caso, só pedi para não mexer nas coisas do meu marido e eles respeitaram. Achei legal.
B: E no dia em que você cozinha, não há privacidade né?
G: Bom, ai vai das 8:00 a uma da manhã. No meu dia, uma quarta-feira, levantei às 6, já tomei banho e eles chegaram às 8:00. Pior que a casa estava toda arrumadinha e eles entupiram com os equipamentos enormes. Não imaginava que fossem tantos aparelhos. Eles ficam o dia com você mas não filmam o tempo todo, só quando se está começando a fazer os pratos. Eu não consegui comer nada neste dia, na verdade, uma semana antes eu já não estava dormindo direito.
B: Você cozinhou....
G: Fiz uma salada de palmito com figo, chicória e rúcula como entrada. O camarão na moranga como prato principal e a sobremesa foi o mousse de maracujá. Eles repetiram, acho que gostaram. O pessoal da equipe também gostou afinal, eles nunca comem e fiz o suficiente para todos. Acho que só brasileiro faz isso mesmo.
B: E você deu algum fora?
G: Eu me preparei muito para não errar nada, tava com medo de falar errado, apesar de não parecer, eu estava super nervosa. Deixei queimar uns pães e fiz um “erro geográfico” ao falar da minha decoração, um mapa do Brasil com suas divisas, mas não apareceu na TV. O pão eu consegui tirar antes que filmassem. O câmera ficou bravo porque eles adoram pegar os foras. (risos)
B: Onde ficou seu marido no dia? Ele gostou de você participar?
G: Ele sempre tem várias atividades e neste dia, após o ensaio do coral, ele foi jogar xadrez. As pessoas até podem ficar na casa se houver espaço mas não podem ser filmadas.
Ele me deu o maior apoio, me ajudou a pensar no melhor cardápio. Pensei em fazer feijoada mas achamos que poderia ser pesado demais, sem falar que a aparência dela é meia estranha. Já o mousse, é a sobremesa favorita do meu marido.
B: E como foram os preparativos?
G: Chamei uma faxineira para me ajudar com os “cantinhos” e deixar a casa perfeita, também é preciso ir ao local onde você irá comprar os produtos um dia antes para garantir que eles estarão lá e ainda, pedir autorização para filmar. Precisei de dois dias com a decoração, tive de pintar a tela, colar grão por grão, agora pelo menos ficou de lembrança.
B: Como foi o entendimento entre o grupo? Eles conseguiam pronunciar seu nome?
G: Virei “Mara” porque o Gilmara era muito complicado. Não foi um grupo super harmônico do qual eu ache que vá sair amizades. Rolou alguns 'bafões” nos bastidores, teve dia em que a comida estava ruim ou mesmo o ambiente não era nada higiênico.
Troquei alguns emails e telefonemas com eles mas não acho que passe disso. Teve uma pessoa que destoou bastante, teve problemas também com a produção, foi desagradável.
B: E a repercussão, as pessoas te reconhecem? (durante a entrevista um trauseunte a reconheceu)
G: Recebi uma média de 80 emails, praticamente só elogios. A maioria eram proposta de casamento, tarde demais, já sou casada (risos). Teve quem disse que o maior sonho é que eu tenha um programa na televisão alemã. Outros eram curiosidades sobre o Brasil e sobre minhas bijouterias. Não tive nenhuma reação negativa.
Percebi que a equipe estava torcendo por mim, um calor humano muito grande, é mágico ver a simpatia que se desperta por ser brasileiro. Reconhecem sim, no metrô, na rua, alguns falam, outros só sorriem. Até no aeroporto de Colônia um rapaz comentou: você é a Gilmara do “Das perfekt Dinner”, né? Torci por você”
B: Você teve algum feedback da comunidade brasileira? Além de você, a Jana Ina participou da versão para as personalidades (Das Perfekt Promi Dinner). Sabe de mais algum brasileiro neste programa?
G: Só teve um brasileiro que me ligou mas soube que há comentários em comunidades do Orkut. Até onde sei, só nós duas mesmo já participamos.
Gostaria de aproveitar para agradecer a Embaixada Brasileira pelo total apoio. Eles me deram livro de receita, Brazines, filme com imagens do Brasil, lembranças, livros lindos que dei como lembrança para os outros participantes, foi muito legal. Eu queria mostrar mais do nosso país e por isso procurei a Embaixada. Eles ajudaram em tudo que precisei.
Além disso tive a colaboração dos brasileiros Israel e Daniel, que cantaram MPB para meus convidados. Um agradecimento especial ainda à duas amigas que indicaram e fizeram os contatos com os cantores, a Carla e a Nara.
B: Você participaria de algum outro programa?
G: “Wohnen nach Wunsch” e “Nur die Liebe Zählt”.
B: E no fim você dividiu o prêmio com a alemã. Achava que ia ganhar? O que fez com o dinheiro (750,00 euros)?
G: O dinheiro chega duas semanas depois da filmagem. Paguei uma parte da minha passagem para o Brasil agora no meio do ano. Se contar com os erros que não apareceram, me daria um “5”.
Mas depois do jantar aqui em casa, tinha a sensação que podia sim vencer, afinal, fiz a caipirinha ao vivo, mostrei nossa cultura de forma diferente, fiquei confiante. Mas quando ganhei mesmo foi inacreditável. Valeu a pena, foi uma ótima e rentável experiência.
Algumas curiosidades reveladas por Gilmara:
*No primeiro dia da filmagem, as pessoas se conhecem cinco minutos antes do início da gravação, ao serem “equipadas” com seus microfones.
*O dinheiro que aparece no prato para o vencedor final, os 1500 euros, é de plástico.
*O carro no qual os participantes decidem o número de pontos é uma espécie de furgão que funciona como um estúdio e dá a volta no quarteirão para registrar as cenas. “Temos apenas seis segundos para falar, é tudo muito rápido”.
*Para voltar pra casa, eles recebem um cheque extra e, quando o jantar acaba, já encontram seus devidos táxis na porta.
*Três equipes se revezam para as gravações, uma média de 15 pessoas.
Ficha técnica
O que é “Das Perfekt Dinner”?
Uma das produções mais popular da Vox, a idéia consiste em reunir, a cada semana, pessoas de diferentes profissões que gostem de cozinhar e se disponham a preparar o melhor jantar para os outros. Eles se avaliam entre si, contando pontos para a qualidade da comida, a decoração, o ambiente, a receptividade do anfitrião, a originalidade, etc.
Mais informações sobre o programa no site da Vox: http://www.vox.de