Wednesday, May 09, 2007

Carioca experimenta “maior susto da vida” em Berlim





Após 11 anos em Berlim e algumas décadas de sua vida no Rio de Janeiro, a carioca Lúcia Silva levou, na sexta-feira, 27, o que considera o maior susto da sua vida. “Depois de viver anos entre os morros e a violência do Rio, jamais achei que aqui, no primeiro mundo, teria uma experiência desta. Foi a pior de todas, quase morri, não desejo o mesmo para ninguém”, recorda.

Eram 20:30 quando ela e o namorado sentiram o primeiro sinal de anormalidade daquela noite. A porta entre o corredor e a sala abriu sozinha enquanto assistiam televisão.

Novamente fechada, resistiu apenas alguns segundos assim: saiu totalmente do lugar com a explosão que estilhaçou ainda as janelas fechadas. “Pensamos que tinha alguém nos atacando e quando chegamos no primeiro andar, percebemos o incêndio. As portas já estavam em chamas, tivemos de passar. Uma mulher quando desceu já estava intoxicada pela fumaça, na hora você só pensa em fugir, dá impressão que o prédio vai desabar”, relata a carioca.

Tudo teria acontecido por que seu vizinho, chamado pelo tablóide Berliner Kurier de Thomas E, de 44 anos, teria tentado se matar levando junto consigo os moradores do prédio de Lúcia e do prédio ao lado.

Depressivo após o suicídio do namorado no ano passado, ele teria espalhado “bombas de gasolina” na frente de cada porta.

Lúcia comenta ainda a existência de uma câmera instalada por ele no porão há algum tempo. “Achamos estranha esta história da câmera mas ele em si, parecia normal.”

Um vizinho do outro prédio que estaria fazendo um churrasco no jardim, sentiu cheiro de gasolina e encontrou os “preparativos” da explosão, chamando a polícia. Por isso que a mesma se encontrava no local no momento em que a residência da Lúcia já estava em chamas.

Descalça, de camiseta e calça jeans, Lúcia largou tudo para trás e assim também andou pela primeira vez na sua vida em uma viatura policial. “Tivemos ajuda da Cruz Vermelha e da polícia a noite inteira”.

Ela conta que um policial se machucou, animais de estimação morreram e outros passaram mal por causa da fumaça. “Poderia ter sido muito pior, o prédio queimou demais.

A novela apenas começou. Foram cinco dias sem saber onde ficar (a primeira noite em um hotel, a segunda, numa instituição, a terceira em casa de amigos) e sem ter acesso aos objetos, documentos e afins largados na pressa na Warschauer Straße.

A permissão para pegar algumas coisas durou pouco, mas foi o suficiente para Lúcia ter uma idéia dos estragos e conferir que as labaredas acabaram com a entrada do que um dia chamou de casa. “Já vi que o lustre, o ventilador e outras coisas quebraram. Sem falar que está tudo coberto de pó. Vai demorar para colocar a vida de novo em ordem”

Apesar de chocada com a história, ela agradece o fato de estar recebendo todo o apoio, inclusive do Governo e admite que pode acontecer em qualquer lugar. “Acho que em todo prédio pode morar um louco, estou feliz de estar bem e viva.”

O que se sente por alguém como o suicida? “Dá muita raiva mesmo assim não desejo mal, dizem que ele está muito machucado no hospital mas não sei não, ninguém viu ele sendo levado. Pior que eu acho que ele vai tentar de novo.”

Agora ela e o namorado procuram um novo lar. Mas o trauma ficou. “e não posso ouvir barulho de polícia, ambulância, bombeiro. Voltam as cenas daquela noite.”

Lúcia acredita, no entanto, que irá superar o trauma com o tempo. Pelo menos a carioca teve a chance de ver o quanto é querida pela comunidade brasileira: assim que a notícia espalhou, começou a ganhar objetos, roupas e o mais importante, apoio e carinho. “Muito bom perceber quanta gente gosta de você, quero agradecer muito a todos”.

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