Friday, July 20, 2007

Hertha tem novo brasileiro no elenco

Por SANDRA MEZZALIRA GOMES e ALEXANDRE LOZETTI

Mais uma vez o colega ALEXANDRE LOZETTI que mora em São Paulo e trabalha para um grande veículo de comunicação especializado em esporte traz notícias exclusivas para os torcedores do Hertha.

A pedido do Berliner Zeitung (BZ), Alexandre entrevistou por telefone o mais novo jogador do time da capital alemã, Lucio Carlos Cajueiro de Souza, o Lucio.

A tradução para o alemão foi feita pela repórter que redige este texto e a matéria foi publicada na última segunda, 16, com chamada na capa.

A seguir, na íntegra e com exclusividade já que tal texto só saiu em alemão e na capital germânica, a reportagem com Lúcio, por ALEXANDRE LOZETTI.

"A partir desta semana, o Hertha Berlin terá outro brasileiro em seu elenco. Depois de Mineiro e Gilberto, que defenderam a Seleção nacional na Copa América, o lateral-esquerdo Lúcio chega credenciado por ter sido um dos principais jogadores do Grêmio, vice-campeão da Copa Libertadores, derrotado apenas pelo Boca Juniors de Riquelme.

Lúcio fez sua despedida do clube gaúcho neste sábado e, após realizar os exames médicos, vai assinar contrato de quatro anos com os alemães.

Aos 28 anos, será sua primeira experiência fora do Brasil, algo raro já que os atletas brasileiros têm saído antes mesmo dos 20 anos.

O lateral, porém, não vê a transferência tardia como um problema, pelo contrário. “Depois do que passei em outros clubes, tive um grande crescimento. Claro que ainda procuro corrigir uma coisa ou outra, mas é a idade ideal para sair”.

Lúcio realmente passou por experiências diversas na carreira. Surgiu como promessa no modesto Ituano, em 2002, quando conquistou o Campeonato Paulista, sem a participação dos principais clubes (Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo).

No ano seguinte, ajudou o Palmeiras a amenizar o maior vexame de sua história e retornar à primeira divisão do Campeonato Brasileiro.

Depois disso, teve péssimas experiências na equipe, foi perseguido pelos torcedores e acabou migrando para o rival São Paulo, onde foi campeão brasileiro – ao lado de Mineiro, mais uma vez seu companheiro -, mas no banco de reservas. ]

Somente no Grêmio reencontrou o futebol do início da carreira. E credencia o sucesso ao técnico Mano Menezes. “Ele soube extrair de mim as melhores qualidades. Tenho um apoio muito bom, não adianta pegar um jogador que tem dificuldade para defender e colocá-lo apenas para isso. Nos outros clubes, não tiveram essa paciência comigo”.

O ótimo desempenho despertou o interesse do Hertha. Após dois meses de negociação intensa, o manager Dieter Hoeness esteve em Porto Alegre para fechar a contratação. Ao lado de um intérprete, evidentemente.

O idioma é o grande problema que Lúcio terá que enfrentar em Berlin, mas conta com a ajuda dos companheiros brasileiros, das aulas particulares que terá no clube e de sua força de vontade para se tornar um “alemão” o mais rápido possível. “Vou procurar andar com outros jogadores quando estiver no clube, falar pelo menos o mínimo em pouco tempo. Sou um cara brincalhão e sempre fiz muitos amigos, não vai ser diferente”.

Lúcio, quando surgiu o interesse do Hertha em sua contratação?

Logo depois da primeira partida da final do Campeonato Gaúcho, em que perdemos para o Caxias. No segundo jogo, conseguimos reverter o placar e fiz um gol. A negociação durou toda a fase final da Libertadores e, agora ,foi concretizada.

E depois de alguns problemas e outros ótimos desempenhos no Brasil, qual a expectativa para jogar no Hertha?

A motivação está renovada. Muita gente disse que não dei certo no São Paulo, mas não tive oportunidades e fiquei apenas seis meses. É diferente de não dar certo. Agora é outro patamar, outra coisa, outro clima.

É sua primeira experiência na Europa?

A única vez que joguei na Europa foi uma excursão pelo Ituano, em 2002, quando passamos 40 dias na Alemanha.

Em que cidades? Passou por Berlin?

Ah, foram muitas cidades, nem consigo te dizer quais. Mas não estive em Berlin.

Então, para você, é uma experiência completamente nova?

Para mim vai ser tudo novo. Houve propostas para permanecer no Brasil e até para jogar em outros países, mas sempre coloquei como prioridade que queria uma saída não apenas para constar no currículo.

Queria também uma estabilidade financeira para mim e minha família, e o Hertha ofereceu um contrato longo, uma aquisição definitiva, sem ser empréstimo.

Foi isso que te fez optar pelo Hertha em vez de outros países?

Escolhi a Alemanha pela tradição do Hertha, por já ter dois brasileiros no elenco, o Mineiro e o Gilberto. Também por não ser empréstimo. Tudo se encaixou perfeitamente, os fatores coincidiram. É o momento certo.

Você está com quantos anos?

28 anos.

Normalmente os brasileiros saem mais cedo, muito novos. Você encara essa saída tardia como algo preocupante ou pode ser vantajoso?

É vantajoso. Depois do que passei em outros clubes, tive um grande crescimento. Claro que ainda procuro corrigir uma coisa ou outra, mas é a idade ideal para sair e me adaptar a outro país, outra cultura.

E quais dificuldades externas você espera encontrar em Berlin? O frio, o idioma, a saudade do Brasil?

Em termos de temperatura, frio por frio, Porto Alegre está gelado também. A gente vai se adaptando, apesar de ser verão agora em Berlin. Isso é normal. A maior dificuldade mesmo será o idioma, mas com o tempo vou aprendendo.

O fato de haver dois brasileiros lá vai abrandar um pouco essa dificuldade?

Principalmente por isso também. O Mineiro está com intérprete ainda, mas uma palavra ou outra a gente vai aprendendo. Ninguém vai falar alemão do dia para a noite, mas vou me empenhar muito, ter aula particular no clube. Isso vai ajudar.

Você negociou diretamente com o Hoeness, manager do clube?

Primeiro veio o gerente de futebol, que é realmente quem conduz as negociações. Depois ele passa ao Dieter Hoeness, que é o presidente e só ele fecha a parte financeira. Ele veio a Porto Alegre para fechar o negócio.

Com um intérprete, eu suponho.

Claro, isso é normal, ele sabe que o jogador não fala o idioma.

Acha que seu estilo de jogo vai se encaixar no Hertha?

A Copa Libertadores me fez crescer muito. Deve ser o mesmo estilo e já estou adaptado, uma arbitragem que não marca qualquer falta, não existe bola perdida. E pelo fato de o Hertha ser uma grande equipe, a parte técnica também deverá ser muito utilizada.

Por que você teve no Grêmio o sucesso que não encontrava há algum tempo, desde seu início no Palmeiras?

O Mano Menezes, técnico, soube tirar todas as minhas qualidades. Tenho um apoio muito bom e ele procurou usar isso. Não adianta pegar um cara que não tem a virtude apenas de defender tanto e colocá-lo só para fazer isso. Tem de procurar usar a qualidade do jogador, tenho muita velocidade e ele explorou isso, além de aprimorar minha marcação. Em outros clubes não tiveram essa paciência comigo.

E você acha que o técnico do Hertha terá essa paciência, ou essa sensibilidade de explorar suas principais qualidades?

Também, acho que sim. Ele vai procurar me escalar naquele setor ou nas condições em que realmente estiver precisando e vou me colocar à disposição para atuar onde ele achar necessário.

Você chega agora para fazer exames e assinar contrato. Já fica em Berlin ou volta ao Brasil para resolver mudança?

Já fico definitivamente. Meu irmão e minha esposa que irão resolver essa questão de mudança para mim.

Eles também vão morar com você?

Sim. Minha filhinha de três anos, Maria Eduarda, minha esposa, Patrícia Cristina, e meu irmão, Clécio. Todos ficam em Berlin comigo.

Você já conversou com o Gilberto e o Mineiro depois de fechar negócio?

Não, quem conversou com eles foi o Ranielli, meu empresário. Procurou informações do clube, sobre o estilo de jogo e foram positivas. Quando ele falou da proposta, eles ficaram muito contentes.

Depois de seis meses você volta a jogar com o Mineiro, foram campeões no São Paulo. Dá para repetir o sucesso da dupla?

Vai ser legal, quando a gente vai para outro país fica contente em saber que há outros brasileiros por lá. Joguei contra o Gilberto muito tempo, quando ele estava no São Caetano, e fui campeão brasileiro ao lado do Mineiro. Temos uma certa afinidade e um vai ajudar o outro.

O que você espera no Hertha? Brigar por títulos, por uma vaga na Champions League? Qual seu objetivo?

Pelo time que o Hertha está montando, pode ter certeza que é para disputar títulos. O investimento está sendo alto nesta temporada e é um clube de tradição, isso vai empurrar a equipe para frente.

Você acha que terá de mudar alguma coisa para dar certo na Alemanha?

Não, a única mudança que terá da minha parte é que vou realmente procurar andar com outros jogadores no momento em que estiver no clube, tentando aprender alguma coisa rapidamente. Dá para falar um pouco do idioma. Vejo pelo Schiavi e o Saja, argentinos que chegaram ao Grêmio e não falavam nada de português, mas logo estavam conversando com todo mundo. Vou procurar me entrosar o mais rápido possível.

Gilberto e Mineiro disputaram a Copa América com a Seleção Brasileira. Acha que o Hertha também pode te ajudar a ser convocado pela primeira vez?

Todo jogador sonha com isso e não sou diferente. Mas a convocação depende muito do que o jogador está fazendo no clube. Então, coloco isso em primeiro lugar. Temos que ganhar títulos, nos qualificarmos para as competições européias. Fazendo isso, a Seleção é conseqüência.

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